No domingo, depois de votar e almoçar numa boa cantina na Bela Vista, fui visitar a 29ª Bienal de Artes de São Paulo. A mostra de 2010 é infinitamente melhor que a passada que deixou um andar inteiro vazio e que foi alvo de pichadores. Entre as obras mais comentadas pela mídia confesso que não vi nada demais na de Nuno Ramos com seus urubus. Com certeza a Bienal traz coisas mais legais de ser ver e apreciar, como a série Inimigos, do artista plástico pernambucano Gil Vicente. A obra traz uma série de imagens do próprio artista executando personalidades como o presidente Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, George W. Bush, Ariel Sharon e o Papa Bento XVI.
Outra obra que merece destaque é A Origem do Terceiro Mundo, um túnel criado pelo paulista Henrique Oliveira revestido por lascas de madeira usadas em construção. Na saída, olhe para trás e repare na forma da instalação do artista. Daí você vai entender o titulo da obra.
O interior da obra A Origem do Terceiro Mundo
Interessante também são as instalações Abajur, de Cildo Meireles; Beggars, do turco Kutlung Ataman e Sobre Este Mundo, de Cinthia Marcelle. A primeira traz pessoas, como num trabalho escravo, movendo um enorme abajur com projeção de imagens do mar e do céu. Impossível não associar aos filmes que traziam escravos remando. Já a obra do cineasta turco incomoda e está sendo considerada uma das mais fortes da mostra. A instalação em vídeo mostra pedintes em várias situações mas sempre com a mão esticada focando a ação do pedir. Uma lousa e amontoados de pó de giz formam a obra da brasileira Cinthia Marcelle, que de uma forma simples, porém impactante, joga foco na comunicação ou na sua falta.
Sobre Este Mundo, instalação da brasileira Cinthia Marcelle
Entre as obras que utilizam o vídeo, uma das mais interessantes é Tornado, do belga Francis Alys. Com uma câmera na mão, o artista se joga no meio de tornados no deserto do México numa prova que a arte é investigativa e que o artista não deve ter limites em sua coragem. Já o escocês Douglas Gordon apresenta uma coletânea de seus vídeos todos ao mesmo tempo e em vários monitores e telas. Com certeza, a instalação apresenta o bombardeio de informações que somos submetidos na atualidade.
As dezenas de vídeos do escocês Douglas Gordon
Outra instalação bacana é The Eyes of Gutete Emerita, um trabalho do chileno Alfredo Jaar sobre o genocídio de Ruanda, na África. A obra traz um milhão de slides, todos com os olhos de Emerita, uma mulher que testemunhou a morte de seu marido e filhos e em seguida fugiu, sobre uma mesa de luz. É de arrepiar. Por fim, não deixe de ver a obra Arroz e Feijão, de Ana Maria Maiolino. Pintora, escultora, artista multimídia e desenhista, Anna Maria Maiolino é, ao lado de Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel e Hélio Oiticica, uma das artistas brasileiras de destaque dos anos 1960, apesar de menos conhecida que eles. Sua obra, exposta na Bienal, é formada por uma grande mesa de jantar com pratos cheios de terra, onde germinam sementes de arroz e feijão. Nada mais emblemático para a Bienal de 2010 cujo tema é a política.
1 milhão de slides na obra The Eyes of Gutete Emerita
Arroz e Feijão, de Ana Maria Maiolino
As fotos publicadas no blog foram tiradas na visita de domingo, já que é permitido fotografar sem o uso do flash. Então, mais uma dica: Leve também a sua máquina.
Serviço: 29ª Bienal de Artes de São Paulo. Fundação Bienal de São Paulo – Av. Pedro Álvares Cabral s/nº, portão 3 – Parque do Ibirapuera. Fone (11) 5576-7600. Horários: Segunda a quarta-feira e sábados, domingos e feriados das 9 às 18 horas e quintas e sextas-feiras, das 9 às 22 horas. Até 12 de dezembro. Classificação livre. Grátis. www.29bienal.org.br
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