terça-feira, 5 de outubro de 2010

Na Bienal de SP o que menos interessa são os urubus

No domingo, depois de votar e almoçar numa boa cantina na Bela Vista, fui visitar a 29ª Bienal de Artes de São Paulo. A mostra de 2010 é infinitamente melhor que a passada que deixou um andar inteiro vazio e que foi alvo de pichadores. Entre as obras mais comentadas pela mídia confesso que não vi nada demais na de Nuno Ramos com seus urubus. Com certeza a Bienal traz coisas mais legais de ser ver e apreciar, como a série Inimigos, do artista plástico pernambucano Gil Vicente. A obra traz uma série de imagens do próprio artista executando personalidades como o presidente Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, George W. Bush, Ariel Sharon e o Papa Bento XVI.

Outra obra que merece destaque é A Origem do Terceiro Mundo, um túnel criado pelo paulista Henrique Oliveira revestido por lascas de madeira usadas em construção. Na saída, olhe para trás e repare na forma da instalação do artista. Daí você vai entender o titulo da obra.

2010-10-03 17.17.27 O interior da obra A Origem do Terceiro Mundo

Interessante também são as instalações Abajur, de Cildo Meireles; Beggars, do turco Kutlung Ataman e Sobre Este Mundo, de Cinthia Marcelle. A primeira traz pessoas, como num trabalho escravo, movendo um enorme abajur com projeção de imagens do mar e do céu. Impossível não associar aos filmes que traziam escravos remando. Já a obra do cineasta turco incomoda e está sendo considerada uma das mais fortes da mostra. A instalação em vídeo mostra pedintes em várias situações mas sempre com a mão esticada focando a ação do pedir. Uma lousa e amontoados de pó de giz formam a obra da brasileira Cinthia Marcelle, que de uma forma simples, porém impactante, joga foco na comunicação ou na sua falta.

2010-10-03 16.58.14 Sobre Este Mundo, instalação da brasileira Cinthia Marcelle

Entre as obras que utilizam o vídeo, uma das mais interessantes é Tornado, do belga Francis Alys. Com uma câmera na mão, o artista se joga no meio de tornados no deserto do México numa prova que a arte é investigativa e que o artista não deve ter limites em sua coragem. Já o escocês Douglas Gordon apresenta uma coletânea de seus vídeos todos ao mesmo tempo e em vários monitores e telas. Com certeza, a instalação apresenta o bombardeio de informações que somos submetidos na atualidade.

2010-10-03 16.54.40 As dezenas de vídeos do escocês Douglas Gordon

Outra instalação bacana é The Eyes of Gutete Emerita, um trabalho do chileno Alfredo Jaar sobre o genocídio de Ruanda, na África. A obra traz um milhão de slides, todos com os olhos de Emerita, uma mulher que testemunhou a morte de seu marido e filhos e em seguida fugiu, sobre uma mesa de luz. É de arrepiar. Por fim, não deixe de ver a obra Arroz e Feijão, de Ana Maria Maiolino. Pintora, escultora, artista multimídia e desenhista, Anna Maria Maiolino é, ao lado de Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel e Hélio Oiticica, uma das artistas brasileiras de destaque dos anos 1960, apesar de menos conhecida que eles. Sua obra, exposta na Bienal, é formada por uma grande mesa de jantar com pratos cheios de terra, onde germinam sementes de arroz e feijão. Nada mais emblemático para a Bienal de 2010 cujo tema é a política.

2010-10-03 17.30.37 1 milhão de slides na obra The Eyes of Gutete Emerita

2010-10-03 16.52.29

Arroz e Feijão, de Ana Maria Maiolino

As fotos publicadas no blog foram tiradas na visita de domingo, já que é permitido fotografar sem o uso do flash. Então, mais uma dica: Leve também a sua máquina.

Serviço: 29ª Bienal de Artes de São Paulo. Fundação Bienal de São Paulo – Av. Pedro Álvares Cabral s/nº, portão 3 – Parque do Ibirapuera. Fone (11) 5576-7600. Horários: Segunda a quarta-feira e sábados, domingos e feriados das 9 às 18 horas e quintas e sextas-feiras, das 9 às 22 horas. Até 12 de dezembro. Classificação livre. Grátis. www.29bienal.org.br

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